UM REFUGIO ESCONDIDO NA MATA

A aventura de construir The Lion Cottage na costa do descobrimento, entre o mágico rio João de Tiba e a imensidade do mar da Bahia foi desafiadora e fascinante e continua a cada dia nos surpreendendo com suas maravilhas.

Começamos as primeiras obras da casa há mais de 30 anos, quando o vilarejo de Santo André não tinha estradas, luz elétrica ou transporte regular com a vizinha cidade de Santa Cruz Cabrália.

Tudo aqui chegou a bordo de canoas, desde o material de construção aos móveis e utensílios, e parte do projeto teve que ser adaptada às particulares condições do lugar, às possibilidades e à boa vontade da mão de obra local. Admitimos que em alguns momentos as dificuldades eram tantas e de todos os tipos, que chegamos a pensar em desistir e largar tudo para trás.

O projeto nasceu com Mario Medina e Angela Damasceno, que na epoca tinhan um pequeno escritorio de arquitetura e com a participação de um querido grupo de amigos que costumavam se encontrar no mítico bar Sargaço em Santa Cruz Cabrália. Aos poucos, entre conversas e sonhos, The Lion Cottage foi ganhando forma, enriquecido pelas dicas e sugestões que surgiam nas noites cristalinas e nos finais de tarde encantadores passados à beira do rio João de Tiba, cuja foz desagua lenta na tranquila imensidão do mar, lambendo o velho porto da cidade.

A idéia que nos guiava era criar um refúgio que nos permitisse absorver os ritmos naturais e mergulhar naquela beleza toda, que fosse básico mas funcional, feito com matéria-prima local, que pudesse ser desenvolvido em etapas e sem pressa, respeitoso do lugar e da vegetação nativa.

Um projeto simples que nos permitisse “botar a mão na massa” e participar pessoalmente da construção da casa, obedecendo o ritmo local que se alternava em períodos de grande atividade e outros de paradas repentinas.

Acolher a família e compartilhar momentos de aconchego e vida em comum com os amigos sempre foram as prioridades.

 

Muitos amigos nos perguntam hoje o seguinte: por que o nome: ” The Lion Cottage”?

aqui vai um breve relato….

Tive a sorte de viver na Jamaica com a curiosidade, o entusiasmo e a ousadia dos meus primeiros 20 anos, numa época de grandes tensões sociais.

Tudo era em fermento, e tudo se movimentava a uma velocidade extremamente poderosa: política, música, religião, vida, um caldeirão borbulhante bem descrito no famoso filme de Perry Henzell – The Harder They Came (1973 ).

Daquela experiência extraordinária, que continua viva e enriquecedora até hoje em mim, sobraram, entre outros, discos de 45 rotações, fitas das rádios jamaicanas gravadas no meu Ghetto Blaster, amostras de sementes de legumes e frutas, instrumentos musicais “primitivos” e uma coleção de leões de todas as formas e cores que eu andava ganhando, coletando, construindo junto com amigos das comunidades Rasta de Windsor Forest e Upper Fair Prospect em Portland, onde eu vivia.

Aqui em Santo André, na Bahia, todos esses leões de minha coleção – gravados na madeira, desenhados em papel, pintados em velhos pedaços de madeira ou reaproveitando velhos panos de tecido – acharam uma segunda casa, e uma nova função: viraram o marco de ingresso da estrada que leva ao terreno, desde o primeiro dia em que começamos a receber visitas.

Dali para frente os leões foram se alternando como marco da estrada: cada vez que um “envelhecia”, outro assumia o seu lugar para indicar o caminho aos amigos.

Os leões vindos da Jamaica, que se erguiam solitários no meio da mata não passaram desapercebidos, despertando curiosidade e até um certo temor nas crianças mais jovens. Alguns achavam até que tinham sido colocados ali como sinal para indicar a presença, nos arredores, da perigosa fera!

Hoje em Santo André, na Bahia, todo mundo conhece a entrada do “sítio do leão” e, como o Leão é Jamaicano, o nome The Lion Cottage nasceu.